Ajuste turbulento para um crescimento mais lento

Ajuste turbulento para um crescimento mais lento

No início de Dezembro, argumentamos que, apesar do aumento nos lucros e da movimentação dos preços das ações, a atratividade do mercado de ações era um tanto ambígua. Enquanto os ganhos com o rendimento das ações aumentou durante a maior parte de 2018, o mesmo aconteceu com o retorno em caixa, deixando a diferença entre os dois praticamente inalterada.

O desempenho do mercado em Dezembro foi pior do que a esmagadora maioria dos analistas e investidores antecipou. Como resultado, caixa apresentou melhor desempenho que todas as classes de ativos em 2018. Embora isso seja compreensivelmente frustrante, é importante lembrar que as alocações de ativos são baseadas em expectativas de retorno de médio prazo e riscos associados. Dezembro foi um exemplo brutal de como o desempenho de curto prazo pode desviar-se substancialmente das expectativas de médio prazo.

O mercado mudou sua precificação de uma desaceleração modesta no crescimento, para uma certeza virtual de uma recessão neste ano. Há uma série de explicações para as oscilações do mercado. Incertezas quanto ao futuro do relacionamento comercial EUA-China. Uma mudança nas nuances das declarações dos oficiais do Fed. O abrandamento dos dados econômicos em várias economias importantes. A velocidade e a magnitude das vendas em massa também podem ter sido ampliadas pelo impacto do comércio algorítmico de ações. Qualquer que seja a explicação, há uma desconexão significativa entre a realidade econômica e o desempenho do mercado.

Nós pesquisamos as opiniões de 20 bancos e gestores de ativos que publicaram suas perspectivas para 2019. Embora suas opiniões divirjam em certas classes de ativos, há um consenso considerável em vários temas-chave. Por exemplo, todos concordam que a taxa de crescimento da economia americana desacelerará em 2019, mas que o risco de uma recessão é baixo. Outros temas recorrentes foram um dólar americano mais fraco, uma curva de juros teimosamente estável, uma meta de preço do petróleo acima de US$70, uma desaceleração no crescimento dos lucros nos EUA e uma volatilidade contínua no mercado acionário ao longo do ano.

Os valuations das ações são atraentes, especialmente na Europa e no Japão, onde muitos gestores continuam favorecendo uma alocação. As visões sobre o mercado de ações dos EUA foram, no entanto, mais misturadas, dada a desaceleração do crescimento dos lucros. Isso se traduz na maioria dos gestores optando por uma alocação de ativos com uma pequena preferência por ações sobre renda fixa. Os mercados emergentes (ME), por outro lado, tanto de renda fixa como de ações, recuperaram o interesse da maioria dos analistas.

Nossas visões são semelhantes às opiniões da maioria em alguns aspectos, e diferentes em outros. Após a mudança nos valuations vista em Dezembro, agora concordamos que as ações são mais atraentes do que os títulos de renda fixa. Dentro das ações, preferimos as ações dos EUA sobre as Europeias ou Japonesas. O crescimento dos lucros nos EUA certamente desacelerará em relação ao ritmo tórrido do ano passado, que foi artificialmente impulsionado por cortes de impostos. Mas os fundamentos subjacentes sugerem que algum crescimento modesto neste ano deve ser esperado. As perspectivas para os lucros japoneses e europeus são mais complexas, já que ambos os mercados dependem das exportações. Um ambiente de crescimento global em desaceleração (especialmente incertezas na China) provavelmente pesará nos mercados dependentes das exportações. Por isso, aumentamos nossa alocação em ações americanas para Neutra e mantemos uma Sub-Alocação em Europa e Japão.

Aumentamos também nossa exposição a ações ME para Neutra com uma posiçāo tática em América Latina. Um dólar americano mais fraco associado a um Fed potencialmente mais suave e a preços de commodities estáveis, ​​apoiam os fundamentos de ME. A mudança da administração no Brasil renovou o ímpeto por reformas. Embora não esperemos que o novo presidente tenha sucesso em todas as frentes, algumas mudanças nas aposentadorias podem ser esperadas, o que terá um impacto significativo na dinâmica da dívida de longo prazo.

Por fim, reduzimos nossa exposição a High Yield dos EUA, pois esperamos que os spreads se ampliem ainda mais. Altas alavancagens corporativas, taxas de refinanciamento mais caras e um ritmo mais lento de crescimento devem pressionar os custos dos empréstimos para empresas de menor qualidade.

Enquanto vemos uma desconexão entre a realidade econômica e o desempenho do mercado, reconhecemos que existem alguns riscos. Se as incertezas políticas (relações comerciais EUA-China, paralisação do governo dos EUA) persistirem, as condições financeiras poderão permanecer apertadas. Isso, por sua vez, afetará o crescimento e os lucros. Há mérito em inspirar-se um pouco em Pirro no veleiro, mas não há espaço para complacência.